Home Natação 2016: O ano em que Matheus Rheine pode brilhar nas Paraolimpíadas

2016: O ano em que Matheus Rheine pode brilhar nas Paraolimpíadas

Atleta de Brusque da categoria S-11 (100% cego) é uma das principais esperanças do Brasil nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.

por Redação
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São nove meses que separam um brusquense do sonho de representar o Brasil no Rio de Janeiro. Quando a capital carioca receber entre agosto e setembro deste ano o maior evento do planeta, entre os atletas paralímpicos estará o nadador da Classe S-11 (100% cego) Matheus Rheine.

Pela segunda vez ele terá a chance de representar o país na competição, depois de já estrear na principal disputa do planeta nas Olimpíadas de Londres 2012. Quatro anos depois, Matheus Rheine chega mais experiente e cotado a medalhas após desempenhos incríveis, sobretudo em 2015, ano considerado pelo atleta como “mágico e extremamente feliz”. 

Na temporada passada, Rheine quebrou recordes sobre recordes. Primeiro, brilhou no mundial da Escócia ao ficar com duas medalhas de prata, nos 100 e 400 metros livres e ainda repetiu o feito pouco depois, no Parapan de Toronto, no Canadá.
Não à toa, o nadador de 23 anos considera que o ano de 2015 foi o melhor de sua curta carreira. 

“Graças a Deus estou evoluindo de um ano para outro, e melhorando os tempos, principalmente nos 100 livre. Até o início do ano passado dizíamos que minha prova principal era os 400, que era a qual eu tinha mais chances, e hoje onde estou melhor ranqueado é nos 100”, comenta o segundo melhor do mundo na especialidade. 

“Hoje estou ranqueado como o segundo melhor do mundo nos 100 livre e terceiro nos 400. Nos 50 estou um pouco atrás, sexto ou sétimo, mas é algo que venho lapidando e procurando melhorar já pensando no Rio de 2016”.

Às vésperas do evento no Brasil, Rheine recebeu a equipe do Esporte SC em sua casa, ainda no bairro Azambuja. É ali que recebe amigos e familiares, pelo menos por enquanto, já que deseja se mudar para um apartamento no Santa Terezinha. O atleta vive atualmente com a mãe, Rose, uma das principais entusiastas e grande incentivadora. 

Também destaca o apoio do pai, José Luís Rheine, no início de carreira. “Tenho um carinho e amor enorme pela minha mãe, por tudo que ela já fez por mim. Meu pai também foi muito importante, sobretudo no começo me incentivando a nadar. Também devo muito aos meus técnicos e todo o pessoal que faz o melhor por mim. Gosto sempre de agradecer, porque sozinho não chegaria a lugar nenhum”, destaca.

Veja o bate-papo de Matheus Rheine com a equipe de reportagem do EsporteSC.

EsporteSC – Em 2015 você chegou a sua melhor temporada com resultados impressionantes em todas as competições que disputou. Qual avaliação faz da temporada?

Matheus Rheine – Foram três competições nacionais pelas Caixa Loterias, que aconteceram em São Paulo, e três medalhas em cada competição, então, são 9 nacionais. Nadei também nos Estados Unidos, onde conquistei quatro medalhas. (‘tenho que até conferir certinho’, diz, aos risos, após uma leve pausa para pensar). Tem também as medalhas no mundial e no Parapan (duas medalhas em cada).

Então, só posso dizer que foi uma alegria para mim. Esse ano foi extremamente feliz. O melhor até hoje. Graças a Deus estou evoluindo de um ano para outro, melhorando os tempos, principalmente nos 100 livre. Até o início deste ano dizíamos que minha prova principal era os 400 – que era onde eu tinha mais chances – e hoje onde estou melhor ranqueado é nos 100.

EsporteSC – A que você destaca os resultados?

Matheus Rheine – Gosto de sempre agradecer, lembrar de todo mundo porque sozinho não vamos a lugar nenhum. Meus patrocinadores, meus técnicos e minha nutricionista que fazem um trabalho espetacular, e são muito importantes. Queria agradecer a minha mãe (Rose Correa). Tenho um carinho e amor enorme por ela e por meu pai (José Luís Rheine) que me ajudou, sobretudo no começo me incentivando a nadar.

EsporteSC – Esperava ter resultados tão significativos?

Matheus Rheine – Um mês antes do Mundial, o Marcelo Sugimori veio a Brusque acompanhar os treinos, viu que estava rendendo muito e a gente estava muito contente. Ele falou – pode ter certeza que a gente vai esperar muita coisa, e não deu outra. Foram duas pratas no Mundial, tanto nos 400 quanto nos 100, em que baixei muito meu tempo. Tinha 1’00”30s e fiz 59”20s.

EsporteSC – E logo em seguida veio o Parapan, em que você também brilhou.

Matheus Rheine – O Parapan veio praticamente na sequência, em agosto. Só deu para voltar para casa, lavar um pouco às roupas e já viajar novamente. E o Parapan trouxe felicidades gigantes. Os tempos foram praticamente os mesmos do Mundial, sendo que a gente tinha o desafio de voltar de uma competição com aquela dúvida na preparação entre voltar a treinar forte ou descansar, o que é sempre uma decisão muito difícil para o treinador e atleta.

EsporteSC – Isso não impediu que trouxesse mais medalhas.

Matheus Rheine – Peguei dois ouros no Parapan. Um nos 50 e outro nos 100 livre. O interessante é que eu ganharia também nos 400, mas por falta de atletas juntaram as classes e eu acabei nadando também com quem enxerga. Em virtude disso não consegui pegar medalha. Mas fiquei em quarto. Foi um bom resultado. Fiquei muito feliz.

EsporteSC – Você vem de várias competições no ano. Esse desgaste não atrapalha?

Matheus Rheine – Acho que a gente não pode ficar reclamando. Gosto tanto de treinar que acaba não sendo um trabalho, faço isso com alegria, com amor. É uma satisfação fazer o que faço e acredito que ano que vem trarei medalhas para o Brasil nas paralimpíadas.

EsporteSC – Como você lida com o reconhecimento do seu trabalho?

Matheus Rheine – Isso é o combustível que me mantem treinando. Às vezes vejo mensagens seja no face, na rua. Em outras oportunidades estou com minha mãe caminhando, encontramos pessoas e elas me param, me incentivam, diz que me acompanham e me dão força para continuar treinando. É algo que me motiva muito.

O Brasil é reconhecido pelo país do futebol e você ver a galera de Brusque prestigiando outros esportes, apoiando e torcendo, não tem reconhecimento maior do que isso. A maior medalha é ouvir de alguém que ouviu sua história e ver que você conseguiu passar algo para outra pessoa. Isso me deixa extremamente feliz e com energia positiva para seguir em frente, pois isso com certeza faz a diferença.

EsporteSC – Às vésperas das Olimpíadas de 2016, como você se sente sendo uma das principais esperanças de medalhas do Brasil na natação paralímpica?

Matheus Rheine – Acho que o sentimento vai explodir mesmo quando eu botar o pé lá já para começar a treinar e aí vai cair a ficha realmente que estou lá. Assim como em Londres, acho que só vou me dar conta do que é esse evento a partir da abertura. São as competições com o maior número de expectadores. Vai ter muita gente lá torcendo não só por mim, mas por esse Brasil todo. Acho que será um evento lindo, mas a ficha da dimensão do evento e do que posso fazer nem eu consigo pensar muito bem.

Não que eu não esteja treinando e sonhando com isso, com certeza estou, mas ainda não estou pensando totalmente na competição de uma maneira próxima. Quando tenho algo na cabeça, dependendo da forma como coloco isso na cabeça, espero tanto aquele evento que me gera ansiedade, e isso acaba me atrapalhando na hora. Procuro pensar em cada um dos degraus. Quando treino penso muito no tempo como objetivo. Não penso muito como será a competição, se ganharei medalha ou não. Mas tenho certeza que se atingir os tempos que quero será uma consequência.