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Expedicionários prestigiam XXVI Fenajeep

José Bernardino Coelho mora em Camboriú e foi convocado para o 11º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira. Destes três queridos convidados, era quem tinha a memória mais comprometida. “Qual a minha a idade?”, perguntou ele, para o cuidador, levantando a sobrancelha em sinal de surpresa ao ser informado que já havia completado 98 anos!

por Redação
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Quando o jipe acelera, o ronco do motor ainda é inconfundível. Mas, ao olhar para frente, não havia um front de batalha. Apenas uma pista alaranjada pelo barro, circundada por arquibancadas, onde milhares de pessoas aplaudiam de pé. Na tarde quente deste sábado, 22 de junho, os expedicionários Arnoldo Lana, José Bernardino Coelho e Hugo Pedro Felisbino prestigiaram a XXVI Fenajeep e embarcaram com a organização do evento em uma volta pela pista mais radical da América Latina.

José Bernardino Coelho mora em Camboriú e foi convocado para o 11º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira. Destes três queridos convidados, era quem tinha a memória mais comprometida. “Qual a minha a idade?”, perguntou ele, para o cuidador, levantando a sobrancelha em sinal de surpresa ao ser informado que já havia completado 98 anos!

Assim como os outros dois amigos, José Bernardino passou um ano na Itália, em 1944. “Lembro o suficiente para dizer que a guerra é muito ruim e que jamais deveria voltar a acontecer. Tudo que nos restou foram essas medalhas de ex-combatentes”, conta o expedicionário.

Arnoldo Lana é natural de Gaspar, mas mora em Brusque e, inclusive, prestigiou a solenidade de hasteamento e abertura da XXVI Fenajeep na última quarta-feira. Minutos antes de conhecer a pista do evento, ele parecia ansioso com a possibilidade de embarcar novamente em um jipe, veiculo que conheceu durante a Segunda Guerra Mundial. “De certa forma, falar sobre isso ainda provoca um arrepio. Entendo que as pessoas queiram saber o que aconteceu na Itália, mas eu preferia esquecer”, descreve.

Remanejado para o 1º Regime de Infantaria, seu Lana lembra que aquele ano que viveu na Itália era basicamente cronometrado pela condição climática: inverno e verão. “Enfrentamos uma neve braba, com quase um metro de altura. Nos vimos acuados naquela terra fria. Mas o pior foi perder os amigos do mesmo pelotão na batalha. Muitos deles morreram pelos estilhaços de bomba”, recorda.

Em meio ao horror da guerra, o que confortava o coração de Lana era saber que sua família, no Brasil, permanecia em paz. Ele, por sua vez, agradecia a sorte de seguir com vida ao fim de cada dia. “Acho que o dia mais feliz da minha vida foi quando anunciaram o fim da guerra. Foi um momento de muita festa. Era mesmo uma loucura pensar que aquilo, finalmente, havia chegado ao fim” diz Lana, garantindo que essa mesma alegria permaneceu na viagem de volta, 11 dias em navio.

Já em solo verde-amarelo, seu Lana foi recebido com uma grande notícia: sua amada Lucinda, que na época da partida ainda nem era exatamente sua namorada, foi fiel ao voto e o esperou regressar da guerra. Os dois se casaram, se tornaram pais de sete filhos e foram protagonistas de uma vida cheia de amor, até a partida dela, há nove anos.

“O que aprendi com a guerra é que ela merece ficar no passado. Vamos escolher uma vida de paz”, ensina seu Lana.

Super memória

“Eu não lembro nada. Minha memória está muito comprometida. Só sei que embarquei para a guerra no dia 2 de julho de 1944 e fui membro do 6º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira. Estou brincando, eu lembro de tudo”, é assim, cheio de graça para quem daqui a seis meses completa 100 anos, que o expedicionário Hugo Pedro Felisbino começa a narrar algumas das muitas lembranças que tem da Segunda Guerra Mundial.

Seu Hugo nasceu em Tijucas, mas hoje mora em Camboriú. E, apesar de também sentir repulsa pelo o que viveu na Itália, não se incomoda de compartilhar essas memórias. Para ele, manter viva a irracionalidade desta história e contribuir para que o mesmo erro jamais volte a acontecer.

“Fomos recebidos em Nápoles e passamos oito dias ao relento. Não havia onde dormir naquela terra de um antigo vulcão. Depois de 14 dias seguimos de trem para Roma, onde finalmente havia melhores condições. Nos chamavam de “brasilianos bravos”, em referência à nossa coragem”, afirma seu Hugo.

Ele, que aprendeu a dirigir no Rio de Janeiro, se tornou Sargento de Transporte e viu o quanto a vida se torna frágil diante da crueldade humana. “Lembro de um bombardeio, com 18 soldados feridos e seis mortos. Eu desmaiei sobre aqueles corpos. O que aprendi é que a guerra é uma estupidez dos homens. Ali, mesmo os que vencem não ganham nada com isso”, detalha seu Hugo, que próximo de comemorar seu primeiro centenário demonstra uma lucidez de poucos.

Além da volta na pista e o prestígio da volta na pista da XXVI Fenajeep, os expedicionários também foram agraciados com um diploma de honra e um troféu, com um jipe esculpido em pedras ametistas, como recordação.